Hoje em dia, temas como a sustentabilidade e a preservação do ambiente são um desafio transversal aos diferentes sectores de atividade, fruto de uma consciência coletiva, em larga medida potenciada pela força do digital, o que influencia as escolhas empresariais, assim como comportamentos e hábitos de consumo.
Esta é uma realidade à qual o sector da construção não é alheio, sendo este um sector onde as atividades são cada vez mais controladas, apoiadas em organismos como o CEN, que desenvolve normas internacionais, ou enquadradas no Regulamento dos Produtos da Construção com aplicação direta e obrigatória em todos os Estados Membros.
De acordo com este panorama, como se justifica que, em Portugal, as argamassas preparadas em obra correspondam a mais de 60% do total de argamassas produzidas, quando não garantem, na globalidade:
– Ambiente controlado da fábrica, desde as matérias-primas, ao processo de fabrico e ao controlo de qualidade dos produtos acabados;
– Requisitos de desempenho dos produtos: físico, mecânico e químico;
– Higiene e Segurança dos trabalhadores e cidadãos, os quais, por exemplo, respiram as poeiras das ações de mistura.
A alternativa passa por substituir esta produção por argamassas controladas em fábrica, de acordo com a legislação em vigor e entregues nas quantidades e packaging adequado. Para além dos ganhos óbvios de qualidade, também o ambiente seria o grande beneficiário, dado que o outro lado visível do peso acarretado pelas argamassas produzidas em obra em território nacional prende-se com a circulação pelas cidades de transportes com a carga de algumas matérias-primas a céu aberto, assim como as respetivas descargas deixadas no estaleiro a céu aberto até à sua utilização. Uma imagem bem distante daquela que se vê por essa Europa fora. Em abono da verdade, é certo que existe um espaço para as argamassas preparadas em obra, mas apenas para aspectos muito específicos, pelo que a sua utilização não deveria ser uma prática regular.
Este é princípio defendido pela APFAC, que na sua atuação procura a coerência entre a época atual de desenvolvimento e sofisticação dos materiais e as práticas verificadas em obra. Neste sentido, a APFAC invoca que a preparação deve deslocar-se, como princípio, do estaleiro para a fábrica. É incoerente, a nível regulamentar, existir um foco na normalização e nos exigentes padrões de qualidade e segurança, serem exigidos registos REACH, marcação CE, eficiência energética e, ao mesmo tempo, a praxis pautar-se pela preparação regular de argamassas em ambiente de estaleiro.
Trata-se de uma missão possível, mas para a qual a APFAC necessita de aliados. Nesse sentido, deixamos um apelo às autarquias e organismos estatais/entidades oficiais para uma maior cooperação, tendo em vista a obrigatoriedade no que respeita ao controlo de fabrico de argamassas.
Nas últimas duas décadas, registou‑se uma evolução na construção e, inerentemente, uma inovação nos materiais utilizados. A título de exemplo, especificamente no sector das argamassas, no passado os materiais eram mais absorventes, o que facilitava a colagem, enquanto que, atualmente, existem peças com absorção de água quase nula.
Consequentemente, exige-se hoje uma seleção de produtos especializados para conseguir uma boa aplicação, ainda para mais tendo em conta o potencial de utilização de cerâmica e materiais pétreos. Mas não só. Os consumidores destes produtos devem pensar num sistema que garanta igualmente a segurança, em particular na medida em que existem fachadas com colagem exterior de cerâmica em altura (20 a 30 metros), que, quando não verificadas as regras básicas de aplicação, podem dar origem a acidentes provocados por queda de ladrilhos cerâmicos e pedras de fachadas. Para além da desvalorização/degradação dos edifícios e da má aparência dos mesmos, são também de equacionar os perigos para a segurança pública dos transeuntes da via pública, bem como para automóveis e outros bens materiais. Situações estas que levaram ao decréscimo da utilização da cerâmica em fachadas, quando no mercado abundam boas soluções técnicas para acompanhar a escolha do sistema cerâmica-adesivo e inúmeros produtos novos, concebidos para acompanhar também a evolução estética.
Para garantir a durabilidade e a segurança do sistema “cerâmica‑adesivo” em uso, tornou‑se fundamental a escolha correta do adesivo para um ladrilho específico. Coube à APFAC juntamente com a APICER (Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria) elaborar uma nova tabela de prescrição de cerâmica e cimento-cola.