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Estes tempos são para os miúdos irem ser adultos lá fora | ||||||
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Dizer que estamos velhos é mais um estado mental do que uma constatação do real estado em que nos encontramos e cada pessoa já teve, ou em breve terá, um desses momentos de rafeira perceção própria, por ser um cruzamento tão encruzilhado de macaquinhos autóctones da nossa mente: o mais comum é vermo-nos mais gastos, mais perdedores contra o tempo e a quantificarmo-nos existencialmente pior do que a versão em que os olhos de outras pessoas nos guardam. É a vida que nos toca aprender a viver. Traduzindo para efeitos práticos, não é de todo raro também ouvirmos a lenga-lenga do “no meu tempo é que era”. O revivalismo nada de mal tem se o mantivermos nesse propósito de apenas rebobinar a cassete, mas não. Muito humano também é vermos alguém ir ao seu passado para menorizar o que outrem faz com o seu presente, comparando coisas incomparáveis por haver contextos que as rodeiam ou dizendo que um tem de passar pelo mesmo que outros passaram só porque sim. Na bola, tal também se repercute. Era facílimo saudar que há umas décadas é que era, que a miudagem a brotar no futebol cá de burgo durante os 70s e 80s aguentava-se em Portugal mais tempo, deslizando a sua qualidade pelos nossos relvados até aparecer um mais endinheirado clube estrangeiro a querer levá-lo. Acontecia mais tarde. Lá está, eram outros tempos, mas não matem o mensageiro porque esta é mesmo uma constatação: não havia internets, canais ininterruptos a passarem jogos de todo o lado, nem softwares que juntam vídeos dos melhores passes, remates e cortes de um jogador a estatísticas suas sobre tudo. E muito menos o jogo do povo se abrira a dinheiros empresariais, créditos bancários hipotecados por direitos televisivos ou a ser propriedade de magnatas de outras latitudes. Quando João Alves, Chalana e Fernando Gomes tinham 24 anos, Humberto Coelho os seus 25 ou António Oliveira já se passeava com 27 é que cada um saiu para uma aventura numa das principais ligas europeias. Todos já acumulavam, pelo menos, três épocas a mostrarem-se com dezenas de jogos encadeados no campeonato português e essa tendência minguou quando entrámos na década de 90, mirrando apressadamente neste milénio em que os tempos banalizaram palavras como “passivo”, acumularam Relatórios e Contas que tentam maquilhar dívidas, especializaram gente em rumores de contratações ou mercado de transferências e foram acrescentando zeros à direita na etiquetagem de futebolistas. É nestes tempos que o FC Porto se prepara para vender Fábio Vieira (€35 milhões) ao Arsenal e se diz que venderá também Vitinha (fala-se em €40 milhões) ao Paris Saint-Germain. Têm 22 anos, o primeiro é canhoto e ave rara no futebol pela facilidade a transbordar de técnica com que joga para a baliza e inventa forma de deixar outros em posição de fazerem um golo; o outro é médio que agarra um jogo pelo colarinho e o leva pelo passe, por pequenos toques e pelas acelerações ou travagens para onde mais for preciso e prova como o tamanho não importa nisto de controlar um jogo da bola. Ambos são e foram o melhor que a I Liga tem hoje de juventude. Ao que tudo indica, o FC Porto que tem vivido as épocas de Sérgio Conceição com um garrote à volta da garganta, apertado pela UEFA devido às regras do fair-play financeiro para não ser excluído das suas provas (e ver-se sem os respetivos prémios de jogo), está prestes a vender os seus dois jogadores portugueses mais talentosos e — livrem-se eles de lesões, distrações diletantes e azares na carreira — futuros planetas à volta dos quais a seleção nacional poderá orbitar. E a questão não se trata de puxar pelo saudosismo de outros tempos em que os melhores futebolistas portugueses iam embora mais tarde. É, sim, o cenário triste e comum a todos os clubes da I Liga: como boca que sempre precisa de água, a necessidade de anualmente fazerem vendas de várias dezenas de milhão para trocarem um barco a meter água por outro, adiando um naufrágio no endividamento endémico do futebol português. Combinado com a tendência dos clubes-papões da bola mundial em quererem os melhores cada vez mais cedo, enquanto são bem jovens para que os valores inflacionados que pagarão tenham tempo para, um dia, ainda poderem vir a ter retorno, Portugal é a placa de Petri à qual os tubarões vão atentando, à distância. Neste caso é o FC Porto, mas Benfica (aconteceu com João Félix ou Renato Sanches), Sporting (Nuno Mendes) ou SC Braga (Francisco Trincão) também sucumbiram a irem buscar milhões de euros através da venda da sua juventude, indo eles lá para fora, para serem outros campeonatos a engrandecê-los, outros adeptos a gozá-los de perto e outros relvados a darem-lhes poiso para o talento. Hoje os tempos são estes: Portugal semeia o talento e os frutos mais maduros dessas melhores árvores vão cair lá fora. Não é que noutros tempos é que fosse bom, é que os tempos que correm fazem os jovens talentos ir correr para longe. |
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O que se passou |
Zona mista
A frase foi dita por Christian Horner sobre Max Verstappen, ao “Daily Telegraph”, ainda antes do neerlandês ganhar o Grande Prémio do Canadá, no domingo. O inglês não é dos diretores de equipa mais tímidos, nem dos mais avessos a câmaras, ele abraça-as sem pudores e a “Drive to Survive”, série da Netflix que catapultou a Fórmula 1 de volta para as ribaltas da adoração mais popular no goto de quem segue desporto, prova-o a cada temporada. E lá continua a lutar pela Red Bull em tudo o que não implica a borracha de pneus a ser queimada no alcatrão. O que vem aíFace à versão silly-season a que chegámos por estas alturas do ano no desporto mundial, a ação a acontecer em direto é mais parca do que o habitual. Segunda-feira, 20 🎾 Na antecâmara da chegada de tenistas a Wimbledon (que só começa a 27 de junho) ainda há dois torneios de relva para servirem de isco: o de Maiorca, em Espanha, e de Eastbourne, em Inglaterra (Sport TV). Ambos jogam-se a diário até sábado. Terça-feira, 21 🎾 Que os nossos olhos se encham de ténis a ser jogado sobre esses tais tapetes verdes em Maiorca e Eastbourne (Sport TV). Quarta-feira, 22 ⚽🏃♀️ O primeiro de três jogos de preparação da seleção feminina para o Campeonato da Europa é contra a Grécia (18h, Canal 11). Quinta-feira, 23 🌊 Arranca o Oi Rio Pro, oitava etapa do circuito mundial de surf (Sport TV) cujo período de espera vai até 30 de junho. Sexta-feira, 24 🧗 Haverá pessoas a treparem em desafio à gravidade na Taça do Mundo de escalada, em Innsbruck, na Áustria (20h, Eurosport 1). Sábado, 25 🏑 Quarto jogo da final do campeonato nacional de hóquei em patins entre Benfica e FC Porto (15h, A Bola TV). Domingo, 26 🏍️ Dia de Grande Prémio dos Países Baixos em Moto GP (15h, Sport TV). Hoje deu-nos para isto |
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Michael Jordan é sinónimo de uma panóplia de adjetivos que se sintonizam com quase todas as modalidades, ele e tudo o que ele foi não se prendem ao basquetebol, nem se poderiam cingir à quadra, aos cestos e aquele mágico som de uma bola a roçar nas redes e a romper pelo silêncio expectante de uma arena: Jordam era a cega confiança nele próprio com que se julgava o melhor atleta do planeta, a muralhada fortaleza mental e a inabalável caça à superação de qualquer pobre alma que ousasse ‘picá-lo’ durante um jogo. O melhor basquetebolista a alguma vez ter posto o pé na NBA fez-se mítico, com o tempo, não apenas devido às façanhas extraterrestres com a bola a vadiar-lhe nas mãos, mas igualmente pelos constantes episódios de superação, atolados de carisma até ao teto, que MJ protagonizou ao longo dos anos. A série “Last Dance”, da Netflix, sucumbiu alegremente a isso — propôs-se a narrar a história do último dos seis títulos dos Chicago Bulls e acaba por contar o percurso de Michael Jordan, salpicando-o com os feitos da equipa do touro no símbolo. Um dos casos em que as ocasiões se tocam foi em 1996, quando Jordan conquistou quarto anel, porventura o mais significante, por ter acontecido após ano e meio de pausa no basquetebol, durante o qual foi à procura da fome que perderam após o trágico assassinato do pai, morto por um par de gunas numa estação de serviço de uma autoestrada. Passou esse tempo a experimentar-se no basebol e demorou 18 meses a entender que não, que a sua grandeza lendária não era de taco na mão. Michael Jordan retornou, perdeu em 1995 nos play-offs a Este e isso aditivou-lhe o combustível para puxar os Bulls até à vitória em seis jogos contra os Seatlle Supersonics, no ano seguinte, sendo espetacularmente decisivo como só ele o sabia ser. Conquistado o título, chegou ao balneário, atirou-se para o chão agarrado a uma bola — talvez a mesma na qual se aninhou, curvado e em posição fetal, mal o árbitro apitou pela última vez —, escondeu a cara junto a ela e chorou copiosa e sonoramente, enquanto uma câmara de televisão centrava a angular na lenda tombada por momentos, com as defesas em baixo e a vulnerabilizar-se num tempo em que jornalistas podiam entrar no mais restrito dos espaços. Era o terceiro domingo de junho de 1996, Dia do Pai nos EUA e Michael Jordan voltava a provar a grandiosidade que lhe tocou deixar neste mundo. A Tribuna Expresso está no site do Expresso, onde poderá continuar a acompanhar não só a atualidade desportiva como as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook e no Twitter. Obrigado por nos ler aí desse lado, tenha uma boa semana e, se for caso disso, umas boas férias. |
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